2019-12-10
Ao falar na abertura do Seminário Brasil-União Europeia – Rumo à Indústria 4.0, o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, chamou a atenção para um ponto crucial no debate sobre a transformação digital da indústria, seja no Brasil ou na UE: “Digitalização da indústria não é só um desafio tecnológico. É mudança de paradigma de gestão e de modelos de negócios, de novas cadeias de valor, com maiores exigências na formação de profissionais”.
O secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTIC, Paulo Alvim, concordou com o embaixador: “Nós estamos falando de novos negócios, novos empregos. Não é a sobrevivência da indústria, é um novo momento. É uma construção de convergência de políticas públicas”.
Ybáñez destacou que essas questões são centrais no contexto do acordo entre a UE e o Mercosul. “A Indústria 4.0 (I4.0) ou, para utilizar uma expressão mais abrangente que reflete o escopo das ações da UE, a digitalização da indústria, é uma das mais importantes e bem-sucedidas áreas de cooperação entre Brasil e UE. Existe o interesse de atores da indústria brasileira em aprofundar o conhecimento sobre como a indústria europeia está respondendo ao desafio da transformação digital. Por outro lado, para a UE, o Brasil, que está entre as 10 maiores economias do mundo, é um parceiro inquestionável”, afirmou.
Brasil e UE já são parceiros em tecnologias centrais no âmbito da transformação digital, como IoT (Internet das coisas; em inglês, Internet of Things) e redes de comunicação 5G. “Mas é preciso fazer um upgrade nessa cooperação. E a digitalização da indústria é um dos temas centrais nessa agenda”, defendeu Ybáñez.
Por sua vez, o diretor do SEBRAE Eduardo Diogo afirmou que, “em termos de competitividade, a microempresa brasileira possui 10% da produtividade de uma empresa grande, e a pequena, 27%. No âmbito da OCDE, essa produtividade é de 57% e 68%, respectivamente. Se conseguirmos elevar os padrões da micro e pequena empresa brasileira ao nível da OCDE, cresceremos a 4% durante dez anos.”
Para alcançar essa meta, foi criada em abril de 2019 a Câmara Brasileira da Indústria 4.0, que reúne órgãos governamentais e representantes das indústrias para discutir as políticas públicas que visem melhorar a competividade e o ambiente de negócios no país. “O objetivo é melhorar a inserção do Brasil nas cadeias globais por meio da manufatura avançada”, afirmou a coordenadora-geral de serviços tecnológicos do MCTIC, Eliana Emediato, que falou sobre a formação e o trabalho realizado pela Câmara ao longo do ano e das perspectivas para 2020. A Câmara é coordenada pelo MCTIC e pelo ME, sendo composta por instituições governamentais, acadêmicas e empresariais. “Tem o papel de fazer a governança da transformação digital da indústria.”
No último painel da manhã, os instrumentos de financiamento e promoção da digitalização da indústria brasileira foram apresentados por representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações).
No início da tarde, o professor Jefferson Gomes, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) falou sobre a criação do Centro para 4ª Revolução Industrial do Fórum Econômico Mundial (C4IR Network), que tem uma sede instalada no Brasil.
“As inovações tecnológicas da I4.0 estão pressionando enormemente os marcos regulatórios. Há uma necessidade urgente de uma abordagem mais rápida e ágil para impulsionar as tecnologias emergentes e novos modelos de negócios. O C4IR Network foi lançado em março de 2017 pelo Fórum Econômico Mundial para codesenhar as regulações e políticas públicas necessárias para acelerar a adoção de tecnologias da 4ª Revolução Industrial em prol do interesse público global”, explicou Gomes.
Segundo ele, o centro reúne governos, empresas, startups, sociedade civil, academia e organizações internacionais para desenvolver, implementar e escalar de forma ágil projetos-piloto que podem ser adotados por formuladores de políticas públicas em todo o mundo.
Digitalização das MPMs
Ana Lehmann, perita europeia, e Giancarlo Stefanuto, perito brasileiro, ambos contratados pelos Diálogos Setoriais, apresentaram estudos de experiências de digitalização das MPMs na UE e no Brasil.
Lehmann falou sobre as iniciativas da UE e de Estados Membros para digitalização e capacitação profissional de MPMs, como Learning Factories e Open Days, em Portugal; Testbed Sweden, da Suécia; Digital Innovation Hubs, na Espanha; Pacto Tecnológico, na Dinamarca. “A digitalização das MPMs é o maior desafio. Porque as grandes empresas têm meios e recursos para essa transformação.”
Segundo ela, a UE apresenta um baixo nível de adoção de tecnologias digitais, com 44% das indústrias adotando pelo menos duas tecnologias-chave (automação, nuvem, redes sociais, serviços móveis, big data, IoT, etc.), mas o maior desafio é para as MPMs. “Apenas 17% das pequenas empresas vendem seus produtos online, contra 39% das grandes. Menos de 40% das pequenas empresas têm especialistas digitais, ao passo que essa porcentagem chega a 70% em grandes empresas.”
Já Stefanuto pesquisou 15 MPMs em cinco ecossistemas brasileiros: Campinas, Florianópolis, Manaus, Porto Alegre e São Paulo, selecionadas por identificação de ações de Indústria 4.0. Entre conclusões do estudo realizado pelo perito aparece a necessidade de mudança de visão e cultural apontada pelo embaixador Ybáñez. “Por outro lado, foi possível perceber que os empresários estão sensibilizados para a urgência da transformação digital e existe uma cultura acadêmica empreendedora que pode impulsionar projetos voltados para a Indústria 4.0.”
Mas não são apenas as MPMs que têm um longo caminho pela frente. Segundo estudo da ABDI realizado neste ano com 214 empresas da indústria de transformação e apresentado pelo secretário Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do ME, Gustavo Ene, 79% delas não usam ferramentas da I4.0 ou usam de forma isolada. Apenas 7,5% usam I4.0 com excelência. As empresas que mais se destacam são as estrangeiras inseridas em cadeias globais de valor. Os piores desempenhos são das empresas nacionais brasileiras que ainda não integram essas cadeias. “Nós precisamos ter diagnósticos precisos e soluções diretas para que possamos avançar, por isso criamos a Câmara 4.0.”
Ao discursar no encerramento do seminário, o ministro-conselheiro da DELBRA Carlos Oliveira reforçou a disponibilidade da UE para os próximos passos do projeto. “Esperamos vocês em nossos centros de inovação digital e também para conhecer todos os aspectos cruciais para a formação profissional, que são essenciais para assegurar não só os empregos de hoje, mas os do futuro. Todo o esforço que empregamos nesse assunto é naturalmente para criar economias mais competitivas, mas também para criar economias que possam se traduzir em mais bem-estar para a população e coesão social”, concluiu Oliveira.
O secretário de Desenvolvimento da Industria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério de Economia, Gustavo Ene, agradeceu o apoio da UE e reconheceu: “estamos atrasados. Temos uma capacidade de empreender e muitos recursos naturais, mas precisamos correr e fazer nossa lição de casa para não ficarmos para trás nesse processo. Contamos com todos os parceiros, incluindo a UE, para trilharmos esse caminho e sermos vencedores”.
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