2017-10-30
Luis Felipe Salin Monteiro
Formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Maria, Monteiro é mestre em Gestão de tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília e pela Fundação Getúlio Vargas.
Anteriormente, dirigiu o Departamento de Sistemas de Gestão de Pessoas do MP e implantou os projetos Sigepe Mobile, Painel do Servidor e o Assentamento Funcional Digital. No setor privado, trabalhou nas empresas Volvo, Politec e SAP, atuando em projetos de modernização e de tecnologia da informação.
Para ele, a transformação digital é muito mais do que apenas digitalizar documentos e informatizar processos. “Não queremos ‘pavimentar o caminho do rato’. A transformação digital é importante, porque envolve uma quebra de paradigma, no qual o processo inteiro é repensado, inclusive a sua real necessidade”, afirma o mestre em gestão da tecnologia da informação, durante entrevista sobre a Semana de Inovação em Gestão Pública
Confira na íntegra os insights de Monteiro sobre transformação digital, desafios, parcerias e trocas de experiências.
Diálogos Setoriais: Qual é a importância da realização de um seminário como o da 3ª Semana de Inovação, a troca de experiências, etc.?
Monteiro: A Semana de Inovação, desde sua primeira edição, tem como objetivo fomentar a inovação em gestão pública e contribuir para a mudança de cultura e de mentalidade dos servidores. Plantamos a semente para que cada participante a cultive e dissemine em seu respectivo órgão. Procuramos trazer participantes nacionais e internacionais, pois a troca de experiências é rica e inspiradora. Devemos ressaltar também, que nos últimos anos, o tema inovação se difundiu bastante no Brasil e acumulamos um amplo corpo de conhecimento, que procuramos valorizar também.
Diálogos Setoriais: Qual é a importância da transformação digital para as nações?
Monteiro: Os cidadãos exigem dos governos, pelo menos, o estado da prática da experiência de consumo que possuem com serviços privados. A inclusão digital nos países avança aceleradamente, especialmente no Brasil onde já temos mais de 107 milhões de usuários frequentes de Internet. Por outro lado, em tempos de restrições fiscais como o que passamos aqui, há uma pressão latente pela eficiência da gestão dos serviços. Segundo dados de países europeus, uma transação de serviço digital custa 97% menos do que a mesma transação de serviço presencial. Portanto, há enorme espaço para que, por meio do digital, o governo não somente melhore a eficiência como, por fim, atenda e adquira maior confiança dos cidadãos.
Diálogos Setoriais: Quais são as suas expectativas para o futuro em relação à transformação digital? O que teremos de avanços tecnológicos nos próximos 5 anos? E onde podemos chegar?
Monteiro: A transformação digital é muito mais do que apenas digitalizar documentos e informatizar processos. Não queremos "pavimentar o caminho do rato". A transformação digital é importante, porque envolve uma quebra de paradigma, no qual o processo inteiro é repensado, inclusive a sua real necessidade. O foco é o cidadão, sua experiência, e o resultado para ele, e não o processo ou o meio. Os cidadãos querem obter serviços de forma rápida, simples e que agregue valor, e é isso que devemos oferecer.
Conforme vimos no último dia da Semana de Inovação, ouvimos sobre tendências como a inteligência artificial e blockchain. No Brasil, temos grandes mentes trabalhando nesses temas. Nos próximos cinco anos, diria que a aplicação de inteligência artificial trará maior agilidade no atendimento e redução de risco de fraudes. Ainda o blockchain deverá ser utilizado na validação de documentos públicos, gerando enorme economia de tempo e, principalmente, maior confiabilidade. Aonde podemos chegar? Com a velocidade de inovações no mercado é ainda algo difícil de prever, mas gostamos de pensar que as tecnologias nos ajudarão a oferecer melhores condições de vida para os brasileiros.
Diálogos Setoriais: Quais são os desafios que o Brasil tem à frente e se tem diferença com os que Europa já enfrentou ou tem também que enfrentar?
Monteiro: A transformação digital já está acontecendo no mundo e cabe ao governo acompanhá-la. Novas formas de negócios são lançadas todo o tempo e elas não pedem permissão, elas apenas aparecem. Então, o governo precisa responder muito rapidamente em relação a sua regulamentação. É aquele velho exemplo do Uber e AirBnb. Esse é um desafio pelo qual vários países do mundo estão passando, e cada um está lidando com isso do seu jeito. Temos que lembrar que no Brasil ainda temos um governo analógico em um contexto cada vez mais sofisticado de consumo privado. Então, temos muitos desafios para tornar o Estado brasileiro digital, que incluem desde a revisão normativa (proteção de dados pessoais, por exemplo), investimentos em tecnologias disruptivas e escaláveis (nuvem, IoT, AI), mudança cultural e incentivo à inovação em todas as organizações públicas, a transformação do trabalho e da forma como o concebemos atualmente, dentre outros.
Diálogos Setoriais: Alguma recomendação segundo à experiência europeia?
Monteiro: Ouvimos muitos casos internacionais interessantes durante nossa trajetória, a citar os casos da “pragmática” Dinamarca, a “maturidade” do Reino Unido, a “proximidade cultural” de Portugal e a “estrela” da Estônia. Podemos tirar uma lição importante sobre medição, prototipação e testes. Antes de gastar uma fortuna em uma política pública, é fundamental sabermos se ela irá funcionar. Para isso, precisamos realizar pilotos e medir as variáveis adequadamente, utilizando amostras representativas. Temos também as experiências europeias de transformação digital, a importância de fazê-la, levando em conta a visão do cidadão, dos usuários dos serviços públicos, tornando o Estado mais próximo da realidade das pessoas e, principalmente, mais humano. A lição de que as novas tecnologias podem contribuir para humanizar o Estado e as relações contemporâneas é impactante.
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