2018-07-12
Maior evento sobre o tema já realizado no Brasil, o II International Seminar on Nature-Based Solutions: promoting urban nature for more resilient cities promoveu dois dias de intensos debates e oficinas para troca de experiências e discussão sobre o potencial das NBS para o desenvolvimento urbano sustentável.
“Essa é uma das grandes temáticas da relação da União Europeia com o Brasil. Está havendo uma mudança muito significativa de comportamento em relação às soluções baseadas na natureza, que antes eram vistas como utópicas. Já ficou evidente que precisamos mudar de paradigma, uma vez que aumento da população urbana trouxe como consequência a degradação ambiental e socioeconômica, hoje agravada pelo impacto dos efeitos das mudanças climáticas, agora sentidos com maior intensidade em todos os países”, afirmou o embaixador João Gomes Cravinho, da UE no Brasil, durante a abertura do seminário, na segunda-feira.
Essa visão foi endossada pelo presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Marcio Miranda. “Acho que é muito importante partirmos de uma visão de mundo que tem na natureza padrões a serem observados e utilizados. Obviamente, tendo o conhecimento produzido pela ciência e tecnologia como grande parceiro desse processo”, destacou.
No segundo dia, os participantes puderam conhecer e interagir com a Connecting Nature Academy, que oferece às cidades brasileiras uma plataforma para expressar suas necessidades e compartilhar experiências com as cidades europeias sobre planejamento e implementação de soluções baseadas na natureza para gerar novos empregos, fomentar o crescimento econômico e fortalecer sua resiliência a eventos adversos como os provocados pelas mudanças climáticas.
Por sua vez, o especialista brasileiro Cristiano Cagnin apresentou o Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis, um espaço virtual de disponibilização de conteúdo e soluções para a promoção de cidades sustentáveis.
A ferramenta oferece tradução das iniciativas mais inovadoras no tema da sustentabilidade urbana ao redor do mundo para a realidade brasileira; soluções contextualizadas no território nacional por desafios e por tipologias dinâmicas de cidades-regiões alinhadas aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável); permite que todo usuário (cidadão, gestor público, pesquisador, entre outros) possa apropriar-se dessas tecnologias e desse conhecimento no território nacional; e dá suporte para que todo usuário possa compreender o potencial de implementação ou adaptação de soluções promissoras à sua realidade.
Tiago Freitas, da Direção Geral da União Europeia para Pesquisa e Inovação (DG Research and Innovation, European Commission), apresentou a abordagem europeia para NBS e demonstrou que tipo de projetos podem ser contemplados pelo H2020, maior programa do mundo de fomento à pesquisa e à inovação. Segundo ele, a definição de NBS envolve: i) O uso de organismos vivos: NBS baseiam-se nos serviços que os ecossistemas fornecem; ii) Abordagens sistêmicas, multiusos e flexíveis adaptadas às situações locais; iii) Custo-efetividade, incluindo benefícios diretos e indiretos; iv) Benefícios econômicos, sociais e ambientais simultâneos; e v) Uma abordagem direcionada e orientada a soluções.
Freitas explicou que, por oferecerem múltiplos benefícios para enfrentar diferentes desafios sociais ao mesmo tempo, as NBS se relacionam diretamente com os ODS e outros tratados internacionais, como o Acordo de Paris, o Habitat III e o Marco de Sendai para Redução do Risco de Catástrofes (2015-2030). No caso dos ODS, por exemplo, cada um deles pode ter uma abordagem NBS.
O potencial das soluções baseadas na natureza para contribuir com as agendas globais também foi retomado no segundo dia, em painel específico sobre o tema. Denise Hamú, representante da ONU Meio Ambiente no Brasil, falou sobre os projetos apoiados pelas Nações Unidas e explicou por que ODS e NBS têm tudo a ver. “Ambos são processos de longo prazo, vão além da análise clássica e linear de custo-benefício, conciliam diferentes interesses e pontos de vista e possuem a liderança positiva de um público de interesse institucional ou privado”, destacou.
Estudo de casos
Especialistas europeus trouxeram vários exemplos de infraestruturas verdes em cidades europeias, como Amsterdã (Holanda), que possui projetos para aumentar a área verde e tornar a cidade mais resiliente, e Milão (Itália), com seus icônicos bosques verticais.
O arquiteto espanhol Iñigo Bilbao relatou o caso de Vitoria-Gasteiz, na Espanha, que possui uma lista de NBS de dar inveja em qualquer cidade: 1/3 da superfície urbana é de área verde pública – média de 45 m² por habitante; cinturão verde de 727 ha; 100% da população vive a menos de 300 m de espaços verdes; 33 km de trilhas urbanas; e 90 km de rotas para bicicletas e pedestres no cinturão verde da cidade.
O Brasil também apresentou casos de sucesso em Recife (PE), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP) e Brasília (DF). As especialistas Cecília Herzog e Carmen Antuña expuseram os resultados preliminares do projeto apoiado pelos Diálogos Setoriais UE – Brasil que visa aprofundar as interações entre instituições europeias e brasileiras interessadas no tema e ampliar a troca de conhecimento sobre experiências bem-sucedidas na implantação de NBS em países na Europa e em cidades do Brasil, levando em conta o contexto nas quais estão inseridas.
“Quando iniciei o estudo de identificação de cidades brasileiras que adotaram soluções baseadas na natureza, achei que seria muito difícil encontrar esse tipo de iniciativa. Mas me surpreendi. Há muitos projetos tanto de cima para baixo, implantados pelo poder público, como de baixo para cima, partindo de movimentos coletivos”, afirmou Cecília, que identificou NBS em cidades como Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), São Paulo (SP) e Belém (PA).
Já Carmen relatou experiências europeias nas cidades de Eindhoven (Holanda), Lisboa (Portugal), Milão (Itália) e Tampere (Finlândia). “Os casos estão sendo estudados e comparados com uma ênfase particular em seu potencial de replicabilidade, escalabilidade e adaptação ao contexto local. Além disso, devem abordar os três pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico”, explicou.
Além dos painéis, o seminário contou com oficinas sobre como envolver as comunidades em projetos de NBS, oportunidades de financiamento para soluções baseadas na natureza dentro do programa da UE H2020, criação de indicadores para medir os impactos dessas medidas e importância da participação do setor privado na implementação de NBS.
O evento foi realizado pelo CGEE, em parceria com a União Europeia, por meio da Iniciativa de Apoio aos Diálogos Setoriais UE - Brasil, com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Local Governments for Sustainability (ICLEI).
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