2017-12-18
Lofred Madzou
Sobre a transformação digital, Madzou diz que ela coloca desafios significativos para a nossa sociedade, mas que não há necessidade de pânico em relação à substituição de determinados empregos por robôs. “Na verdade, sabemos, pelo menos desde de Platão, que cada tecnologia tem uma natureza dupla. Ou seja, pode ser o remédio, como previsto pelos tecnomaníacos, ou um veneno, como temido pelos tecnofóbicos. A única questão que importa é: o que determina o equilíbrio? Uma boa ética de design. Isso significa que, à medida que melhoramos nossas habilidades tecnológicas, temos que pensar cuidadosamente sobre onde e como usá-las para o bem de todos.”
No período de 2013 e 2015, ele fundou a propind.com –solução web destinada a apoiar partidos políticos a mobilizarem seus eleitores durante as campanhas. Em 2016, integrou o Conselho Digital Francês como diretor de políticas, no qual sua equipe supervisiona a criação de uma Agência Europeia para Confiança na Economia Digital, focada em regulamentar as plataformas online e garantir a equidade em seu comportamento.
De acordo com a entrevista que concedeu aos Diálogos Setoriais, Madzou pensa que o Brasil deve investir muito na transformação digital. Mas faz uma ressalva: “Apesar dos desafios enfrentados pelo Brasil, seria um erro enxergar a transformação digital somente através das lentes do desenvolvimento... Em vez disso, seria mais útil financiar estudos detalhados sobre o sistema digital brasileiro para produzir estratégias digitais baseadas em evidência”.
Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por Madzou que fala sobre ICT Week, a transformação digital no Brasil e outros assuntos.
Diálogos Setoriais – Depois da 2ª edição da ICT Week, o que você acha sobre a temática deste e evento e sobre a importância de continuar com próximas edições? A inovação e a transformação digital são questões fundamentais a serem seguidas no âmbito da parceria estratégia entre a União Europeia e o Brasil?
Madzou – Eu acredito que a Transformação Digital seja um tópico crítico para o futuro do Brasil, porque as TICs podem afetar todos os aspectos da nossa vida social, incluindo serviços públicos, educação, saúde, serviços financeiros e assim por diante. Atualmente, os maiores atores do mercado são empresas norte-americanas (Google, Amazon, Facebook, Apple, Microsoft). Esses atores têm influência significativa com a experiência na internet de milhões de usuários brasileiros e acesso ao mercado de empresários e empreendedores do país. Essa dominância pode ter impacto negativo nas políticas públicas sociais e econômicas. Para reduzir esse efeito, o governo deve atuar em duas frentes: investimento e regulação. Por meio de parcerias com o setor privado, o Estado pode investir na promoção de um ambiente favorável ao desenvolvimento das empresas brasileiras de tecnologia. Ao mesmo tempo, é preciso enfrentar as questões regulatórias levantadas pela transformação digital e avaliar, por exemplo, como efetivamente proteger a privacidade dos usuários de internet em um ambiente movido a informações. Como é possível criar uma esfera pública online saudável? Ou como estimular inovação? Esses são desafios globais e, por isso, precisam ser enfrentados por meio de cooperação internacional. Para o Brasil, o primeiro passo é fazer parte da discussão mundial sobre regulação das TICs. Partindo dessa perspectiva, a ICT Week é uma iniciativa bastante promissora e, por isso, precisa continuar assim. Além disso, a riqueza dos diálogos durante a segunda edição da ICT week revela importantes pontos de convergência entre União Europeia e Brasil, principalmente em relação à inclusão digital. Afinal, se o futuro é digital, como parece ser, ele não deveria aumentar as desigualdades.
Diálogos Setoriais – O que podemos esperar sobre Inovação e Transformação Digital em todo o mundo? É um risco ou um desafio ser substituído por robôs na maioria das funções no futuro?
Madzou – Eu normalmente não faço previsões porque o futuro geralmente é mais imaginativo do que pensamos. Ainda assim, todas as evidências sugerem que nossa dependência das TICs, na UE e no Brasil, vai crescer, especialmente com o desenvolvimento de inteligência artificial. Essa tecnologia tem potencial de revolucionar nossas vidas, mas também é fonte de ansiedade para muitas pessoas que têm medo de perder seus empregos. Nesse debate, dois grupos são muito vocais: tecnomaníacos e tecnofóbicos. O primeiro descreve um futuro promissor no qual os seres humanos serão libertados de trabalhos insignificantes, que envolvem tarefas repetitivas consideradas alienantes. Ao transferir essas tarefas para máquinas, as pessoas poderiam focar mais em tarefas mais humanizadas, que requerem curiosidade, habilidades interpessoais e empativa. O segundo grupo prevê um choque social que deixará dezenas ou centenas de milhares de pessoas desempregadas. Nos dois casos, o progresso tecnológico sozinho parece determinar o futuro do mercado de trabalho. Na minha opinião, essa visão é simplista. Na verdade, sabemos, pelo menos desde de Platão, que cada tecnologia tem uma natureza dupla. Ou seja, pode ser o remédio, como previsto pelos tecnomaníacos, ou um veneno, como temido pelos tecnofóbicos. A única questão que importa é: o que determina o equilíbrio? Uma boa ética de design. Isso significa que, à medida que melhoramos nossas habilidades tecnológicas, temos que pensar cuidadosamente sobre onde e como usá-las para o bem de todos. Além disso, essa discussão deveria ser global, envolvendo autoridades eleitas, pesquisadores, organizações da sociedade civil e empresas.
Diálogos Setoriais – Comparando com alguns países, o Brasil ainda não está muito desenvolvido em relação à transformação digital. Quais sãos os principais desafios que o Brasil enfrenta?
Madzou – Não tenho conhecimento suficiente sobre sistema digital brasileiro para responder a essa questão. Mas posso fazer um breve comentário. Apesar dos desafios enfrentados pelo Brasil, seria um erro enxergar a transformação digital somente através das lentes do desenvolvimento. Esse viés geralmente incentiva os chamados países em desenvolvimento a replicar o que tem sido feito nos países desenvolvidos, com pouca preocupação com o contexto local, levando a vários problemas. Em vez disso, seria mais útil financiar estudos detalhados sobre o sistema digital brasileiro para produzir estratégias digitais baseadas em evidência.
Diálogos Setoriais – Na sua opinião, quais países são líderes globais e servem de exemplo de Inovação e Transformação Digital? Como o Brasil pode fazer parte da 4ª Revolução Industrial, juntar-se a eles?
Madzou – Bom, a transformação digital acontece em todo o mundo, apesar de ser mais avançada na América do Norte, na Europe e no Sudoeste da Ásia. Por isso, eu não elegeria nenhum líder global específico. O Brasil deve manter um diálogo regular com governos, empresas e organizações sem fins lucrativos ao redor do mundo para discutir a revolução digital. A única coisa que eu destacaria é que a UE é bem avançada em termos de políticas digitais. O governo brasileiro pode se beneficar desse conhecimento no âmbito dos Diálogos Setoriais UE-Brasil.
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